Não se duvida dos benefícios para a alma, ainda que passageiros e irreais, de uma noite tranquila e bem-dormida — esse tema sempre foi um dos mais investigados pelos especialistas nas coisas da mente. A novidade agora é o olhar cada vez mais intenso da ciência para o sono ruim, para a noite maldormida capaz, sim, de desmoronar o dia seguinte.
Cinco em cada dez adultos têm distúrbios de sono, que são um atalho para doenças como o diabetes, diversas modalidades de câncer, depressão e obesidade. Por isso mesmo, há uma corrida hoje para inventar mecanismos que, auxiliados pela tecnologia de ponta, ajudem as pessoas a cair nos braços de Morfeu. Há um movimento irrefreável da indústria da saúde no lançamento de gadgets de uso doméstico. Um engenheiro francês desenvolveu o Dreem, uma faixa que, acoplada ao rosto, emite ondas sonoras afeitas à indução do sono profundo. O Sense, um globo feito de policarbonato, mede a qualidade do ar no quarto e o volume de ruídos, entre outras constatações, e sugere mudanças antes de seu usuário dormir. O Thim é um aparelhinho que, colocado num dos dedos da mão, desperta a pessoa a cada três minutos durante uma hora. Isso porque estudos indicam que, quando a pessoa adormece para valer, interrupções nas primeiras fases do sono permitem que a sua qualidade seja maior. Diz Andréa Bacelar, neurologista da Clínica Bacelar, no Rio de Janeiro: “As pessoas precisam aprender a desacelerar de dentro para fora. Nenhum robô fará isso por ninguém”.
Como, de fato, é preciso que o ser humano aprenda a dormir e, mais que isso, dê valor ao sono, brotou no cotidiano urbano uma nova postura quase obrigatória — nas palavras do The New York Times, em titulo de um artigo recente, “o sono é o novo símbolo de status”. Ou. como definiu jocosamente uma analista de tendências há algum tempo, “o sono é o novo sexo”. Jeff Bezos, o mandachuva da Amazon, já disse que suas oito horas diárias de sono fazem bem aos acionistas da empresa. Um dos gigantes do seguro de saúde nos EUA, a Aetna paga até 500 dólares a seus empregados se eles provarem ter dormido no mínimo sete horas, diariamente, ao longo de três semanas. É estrada que vai longe, dado o incentivo econômico: uma organização de análises de mercado mostrou que, em um único ano, os EUA perdem 411 bilhões de dólares, o equivalente a 2,3% do PIB, em decorrência do mau sono, que antecipa uma jornada ruim de trabalho.
Por: Natália Cuminale – Newsletter Sindusfarma